Segundo o professor Yoji Akao, grande parte do
pensamento japonês sobre gestão, vem do exercício prático de princípios,
valores e hábitos da cultura japonesa. O conceito estruturado de estratégia foi
documentado em 1645, quando Miyamoto Musashi, escreveu o Livro dos Cinco Anéis,
como um guia para os guerreiros samurais. A base dos ensinamentos está definida
na palavra Heiho que tem para nós ocidentais o significado
de estratégia.
A palavra Heiho está formada por
dois caracteres chineses: “hei” = soldado e “ho” = método,
compondo a expressão “método do guerreiro” e suas variações. O mestre
Musashi afirmava que aquele que estivesse familiarizado com a estratégia,
poderia reconhecer as intenções do seu oponente, e com isto poderia construir
as oportunidades de derrotá-lo.
O Heiho é a estratégia e na
história do Japão, repleta de guerras e conflitos, a estratégia desempenhou um
importante papel, auxiliando os líderes militares a realizarem as melhores
escolhas no sentido de vencer e consolidar seus domínios.
Várias escolas dedicaram recursos ao estudo e
ensino do assunto que, aliado a estudos de táticas, treinamentos e teorias,
compunham a estratégia militar como uma arte em si própria. No Heiho,
de uma forma prática, algumas das estratégias básicas de combate, podem ser
aplicadas em situações onde a disputa por uma fatia de mercado é cerne da
questão. E como todas as artes marciais devem ser exaustivamente compreendidas
e treinadas pelos praticantes, a saber:
· Ataque – possibilita empregar uma técnica antes que
o oponente o faça. Baseia-se no conhecimento das habilidades do seu oponente e
na sua na iniciativa, no elemento-surpresa e na velocidade.
· Contra-ataque – possibilita aplicar uma técnica de
ataque quando o oponente iniciou sua investida. Baseia-se no timing, na reação
bem-calculada que usa o ataque inimigo como meio de defesa.
· Defesa – consiste em neutralizar a ação do
oponente, impedindo que este atinja seu objetivo.
Todas elas possuem vantagens e desvantagens e, para
que sejam utilizadas com sucesso, envolvem o estudo detalhado e a integração de
diversos fatores, como: percepção, coordenação e autocontrole.
Na narrativa do professor Yoji Akao (autor do
Hoshin Kanri), o Hoshin nasceu do Heiho, com suas observações
do Kendo, a arte marcial japonesa de luta de espadas
katana. Como Heiho a palavra Hoshin é
composta por dois caracteres chineses “ho” e “shin”, onde “ho”
significa método e “shin” bússola. Quando juntos os caracteres a
palavra Hoshin significa “metodologia para estabelecer uma
direção estratégica”. Este significado é a correta expressão para qualquer
direção estratégica (norte, sul, leste, oeste e suas derivações...), desde que
baseada em uma metodologia com os princípios do Heiho. Algumas interpretações
traduzem como “norte verdadeiro”, que apesar da boa intenção, está errada.
A observância dos princípios do Hoshin proporciona
às organizações as condições para que deem passos consistentes, corroborando
outro princípio do mestre Musashi: “Passo a passo, caminha-se uma estrada de
mil milhas”.
Depois de toda esta revisão histórica, vale
ressaltar que o Hoshin Kanri proporciona um processo passo a
passo para o planejamento, a execução e a revisão das mudanças.
Especificamente, é um método de abordagem sistêmica da gestão das mudanças em
processos considerados críticos para a sustentabilidade do negócio. O método
contido no Hoshin Kanri pode prover um conjunto de processos
coordenados que realizam os objetivos essenciais da empresa.
É muito importante destacar também que desde sua
estruturação, no final dos anos 50 e sua ampla utilização no Japão a partir dos
anos 60 e 70 o Hoshin Kanri manteve o foco na análise
das medidas de desempenho atuais e nas métricas desejadas para
o futuro. Nesta direção, desde o princípio o professor Yoji Akao foi coerente e
alinhado com as diretrizes do Dr. Joseph Juran que dividiu o planejamento da
gestão em estratégico e a gestão da rotina onde os aspectos da execução da
operação do negócio seriam monitorados.
Em outra demonstração de alinhamento, o Hoshin
Kanri foi denominado como o PDCA do processo de gestão estratégica pelo Dr.
Deming, que reforçou a importância da análise de dados para o sucesso do
processo de concepção e gestão estratégica.
Desta forma foram definidos dos passos essenciais
para a aplicação bem-sucedida da metodologia do Hoshin Kanri no âmbito das
organizações que se propõe a adotá-lo:
·
Planejar, estabelecer e monitorar todas as medidas
de desempenho necessárias para
fundamentar o processo de estratégia.
·
Estabelecer os objetivos essenciais do negócio.
·
Compreender com profundidade a situação dos
cenários que a empresa opera.
·
Dimensionar e prover todos os recursos para a
execução com excelência dos objetivos essenciais do negócio.
·
Definir os processos que irão constituir o novo
sistema. Suas tarefas, resultados esperados, medidas de desempenho, métodos de
ajustes, relações de interdependência e feeback.
É óbvio que tudo isto é apenas uma introdução a
este tema, mas que já apresenta uma contribuição sobre a origem e os
fundamentos do Hoshin Kanri, o método de concepção, planejamento, desdobramento
e execução estratégica do lean.
Bibliografia:
YOJI AKAO. Hoshin
Kanri: Policy deployment for successful TQM. SteinerBooks, 2004.