segunda-feira, 14 de outubro de 2019

FUNDAMENTOS DO HOSHIN KANRI - PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO LEAN



Hoshin kanri é também conhecido como hoshin planning (planejamento hoshin), management by policy (gestão pela política) e ainda como policy deployment (implantação das políticas). O termo tem suas origens no SQC (statistical quality control) japonês, que foi implantado no Japão após a II Guerra Mundial por Deming e Juran.
Quanto à expressão “Ho” significa método ou forma, “Shin” quer dizer metal brilhante apontando a direção ou compasso. Os caracteres juntos “hoshin” formam a expressão método para a definição de orientação estratégica e “kanri” é o mesmo que planejamento; controlar o sistema ou gerenciar o processo, segundo definição de Watson (2003). Se juntarmos as expressões Hoshin kanri pode-se definir então como: Método para definição, planejamento, controle e gestão do processo de estratégia nas organizações. Traduzindo desta forma o ciclo PDCA (plan, do, check. action) confirmando o paralelo conceitual de Witcher (2002) entre o hoshin kanri e o PDCA.
A primeira vez que o desdobramento da política passou por uma avaliação, foi no Prêmio Deming de 1958, que avaliou a política e seu plano de desdobramento, as relações interdepartamentais, a padronização, a análise, o controle e os efeitos de tudo isto no ambiente organizacional, Akao (1991). Este foi um momento importante na gestão das empresas japonesas por trouxe uma nova abordagem na organização da estratégia.
Na transição do SQC para o TQC (total qualiy control) que ocorreu no Japão na primeira metade da década de 60, empresas que tinham ganhado o Prêmio Deming, como por exemplo, a Nissan (1960), a Denso (1961), Sumitomo (1962), Nippon (1963), Komatsu (1964) e Toyota (1965); tiveram um papel fundamental na elaboração e prática do hoshin kanri. Mas foi em 1968 quando a Bridgestone Tire Company ganhou o prêmio citado aplicando os conceitos consolidados do método, adotando uma abordagem participativa no alcance das metas é que podemos considerar que o hoshin kanri foi apresentado ao mundo corporativo, conforme relatado por Kondo (1998).
Nos anos 70 o hoshin kanri já havia sido adotado em todas as grandes empresas japonesas e, nos anos 80, este modelo de gestão estratégica chegou ao ocidente por meio de subsidiárias japonesas de companhias americanas. No final dos anos 80 a Flórida Power and Light havia conquistado o Prêmio Deming para companhias estrangeiras demonstrando que o hoshin kanri já estava disseminado nos EUA. Nos anos 90 as companhias europeias que conquistaram o European Quality Award já haviam incorporado a técnica japonesa de gestão estratégia de acordo com Ayala (2010).
No Brasil o termo hoshin kanri foi traduzido e disseminado como “Gerenciamento pelas Diretrizes” por Campos (1996) e fez parte do portfolio de métodos que o TQC (abordagem japonesa) ou TQM (abordagem americana) empregavam nas organizações. O mesmo autor ainda conceituou diretriz como sendo a integração que há entre uma meta e as medidas prioritárias e suficientes para se atingir esta meta.
Após a disseminação da filosofia lean o hoshin kanri foi incorporado por algumas organizações como a melhor forma de direcionar estrategicamente sua capacidade de gerar valor para os clientes, aumentando sua abrangência para além do TQC/TQM segundo Witcher (2001). Neste contexto, pode-se afirmar que o hoshin kanri transcendeu aos nomes dados às diversas filosofias japonesas de gestão e se consolidou como uma ferramenta útil a todas as organizações.
Segundo Cwiklicki (2010) todas as metodologias avançados de gestão podem integrar o hoshin kanri como parte integrante de seu modelo, citando o Lean Management, TQM e o Six Sigma. Desta forma pode-se afirmar que o hoshin kanri se adaptou ao longo do tempo e permanece como método eficaz para o planejamento estratégico das organizações e o alcance dos objetivos estratégicos necessários à sustentabilidade das organizações.
A forma básica de organização do hoshin kanri é apresentada por Akao (1991) na abaixo:
   


 Modelo de hoshin kanri
Fonte: Adaptado de Akao (1991)
Este foi o modelo chamado de participativo por Kondo (1998) e está baseado no giro do PDCA e participação e esforços de todos os funcionários da organização. O primeiro estágio é a elaboração do lema da empresa, segundo Umeda (1995). E este conceito básico deve refletir o espírito da organização contemplando valores como a qualidade, a sustentabilidade, a harmonia coma comunidade, a segurança, a criatividade obtenção de valor para os acionistas e para a sociedade.
A segunda etapa é a concepção do plano de longo prazo pode ser de uma abrangência de três a cinco anos e nele são definidas as estratégias (meios) para atingir a visão de futuro (fins) da empresa. Estas estratégias devem contemplar medidas de reformulação da estrutura organizacional que proporcionarão bons níveis de competitividade da organização nos anos seguintes, segundo Campos (2013). Objetivos estratégicos devem ser estabelecidos baseados na análise do ambiente externo, interno e nas mudanças demandadas. Ainda neste contexto deve-se considerar a definição de metas, capacidades e de uma cultura organizacional que suportem a concretização da visão de futuro do negócio, conforme Calado (2014).
O terceiro passo é o desdobramento do plano de longo prazo, então a estratégia anual é elaborada, como forma de atingir os objetivos. Neste ponto devem ser consideradas as projeções financeiras e de mercado que suportem o atingimento das metas. É importante que haja uma análise de fatores externos, como por exemplo, economia, conjuntura política e aspectos sociais que possam influenciar competitividade da organização, de acordo com Calado (2014), Campos (2013) e Witcher (2002). Também é demandado um exame das condições internas da companhia, avaliando macroprocessos, custo da má qualidade, desempenho do produto, benchmarking, tempo e condições de entrega, segurança, conformidade ambiental, comunicação, moral, tecnologia, compras entre outros, conforme Calado (2014) e Juran (1992). A partir das análises devem ser priorizados objetivos e elaborados planos de ações para cada departamento com os respectivos orçamentos para que as metas sejam alcançadas, como afirma Campos (2013).
A quarta etapa é o cumprimento dos planos de ações, a devendo ser acompanhado de forma periódica pelo nível estratégico da organização. Todos os planos e seus cronogramas com indicadores devem estar contidos em cinco classes: produção, lucros, pessoal, vendas e qualidade. É preciso tomar cuidado para não haver somente a cobrança por resultados, mas também uma análise criteriosa e sistêmica da realidade, conforme instrui Umeda (1995). Todas as ações precisam estar alinhadas com o plano de longo prazo e ferramentas do TQM, Lean e Six Sigma devem ser utilizadas como meios para o alcance das metas. Cada gestor de nível tático pode ter seu plano mestre alinhado com plano anual, facilitando assim o entendimento da contribuição de cada um e das relações de interdependência. Calado (2014)
A quinta fase é verificação mensal pela gestão estratégica do andamento dos planos de ação e adoção de eventuais correções de rota. A cada três meses podem ser feitas revisões mais detalhadas nas ações de forma a avaliar a adequação e o realinhamento das ações, segundo as definições de Manos (2010). No modelo de Akao (1991) estes relatórios seriam: relatório de status do hoshin kanri, relatório mensal de vendas, relatório do comitê de execução, relatório de diagnóstico da auditoria e relatório de problemas críticos.
O sexto e último estágio deste modelo básico de hoshin kanri é a revisão anual das estratégias. Este momento também deve ser dedicado ao início da preparação do plano para o próximo ano, conforme Manos (2010). Um aspecto importante a ser verificado é o alinhamento das ações adotadas com o plano de longo prazo e a visão de futuro, criando oportunidades de aperfeiçoamento do negócio, segundo Calado (2014).
Segundo Ayala (2010) na literatura podem-se encontrar diferentes modelos para a o planejamento e implantação do hoshin kanri. São identificados principalmente quatro modelos: Wood e Munshi (1991) e Campos (1996), que apresentam o hoshin como parte do TQM e os modelos de Dennis (2007) e Jackson (2006), que apresentam o método focado ao contexto da produção enxuta. Wood e Munshi (1991) conseguem expressá-lo de uma maneira mais simples, mostrando também a ligação existente entre o hoshin kanri e o gerenciamento da rotina do dia-a-dia. Por outro lado, o trabalho de Campos (1996) foi pioneiro no Brasil e foi através de quem este método se fez mais conhecido no país. Todos estes trabalhos sofreram grande influência de Akao (1991) que foi o primeiro a formatar e formalizar este tipo de modelo estratégico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AKAO, Yoji.  Hoshin kanri: Policy Deployment for Successful TQM . Cambridge, MA: Productivity Press. 1991.
AYALA, N. F. A utilização do Hoshin kanri para o desdobramento da estratégia no contexto da produção enxuta. Management, 123. Porto Alegre – RS. Escola de Engenharia. UFRGS. 2010.
CALADO, Robison. Método de Diagnóstico de Empresa. Melhoria de Desempenho da Organização. Montgomery. MD. USA. Global South Press. 2014
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento Pelas Diretrizes. Hoshin kanri. 1º Edição. Belo Horizonte. 1996.
CAMPOS, Vicente Falconi. Gerenciamento pelas Diretrizes – Hoshin kanri. 5ª Edição. Nova Lima. Editora Falconi. 2013.
CWIKLICKI, M., & Obora, H. Hoshin kanri: Policy Management in Japanese Subsidiaries Based in Poland. Business, Management and Education, 9(2), 216–235. Retrieved from http://dx.doi.org/10.3846/bme.2011.15 - 2011.
DENNIS, P. Fazendo acontecer à coisa certa: um guia de planejamento e execução para líderes. São Paulo: Lean Institute Brasil. 2007.
JACKSON, Thomas L., Hoshin kanri for the Lean Enterprise. New York. USA.  Productivity Press. 2006.
JURAN, J,M. A Qualidade desde o Projeto. Novos passos para o planejamento da qualidade em produtos e serviços. São Paulo – SP. Pioneira. 1992.
KONDO, Y.  Hoshin kanri - a participative way of quality management in Japan. The TQM Magazine, 10(6), 425–431. https://doi.org/10.1108/09544789810239155. 1998
LIKER, Jefrey K. O Modelo Toyota: manual de aplicação. Porto Alegre – RS. Bookman. 2007.
LOBATO, David Menezes. Gestão Estratégica. 1º Edição. Rio de Janeiro. FGV. 2012.
MANOS, A. Hoshin Promotion. ASQ Six Sigma Forum Magazine, 9(4), 5,7-14. Retrieved. 2010
SENGE, Peter M. A quinta disciplina: arte e pratica da organização que aprende. 25ª Edição. Rio de Janeiro – RJ. BestSeller, 2009.
UMEDA, Masao. 99 Perguntas e 99 Respostas sobre TQC no estilo Japonês. Belo Horizonte – MG. Escola de Engenharia. UFMG. Fundação Christiano Otoni. 1995.
WATSON, Gregory H. Strategy Realization through Collaborative Action. Oklahoma State University. EUA. 2003.
WITCHER, Barry J.  Hoshin kanri: How Xerox Manages. Long Range Planning, 32(3), 323–332. https://doi.org/10.1016/S0024-6301(99)00036-9 – 1999
WITCHER, B. Hoshin kanri: a study of practice in the UK. Managerial Auditing Journal, 17(7), 390–396. https://doi.org/10.1108/02686900210437499 - 2002
WITCHER, B. J. B. HOSHIN KANRI: Journal of Management Studies, (5), 651–674. 2001
WOOD, G. R., & Munshi, K. F. Hoshin kanri: A systematic approach to breakthrough. Total Quality Management, 2(3), 213. https://doi.org/10.1080/09544129100000026 - 1991

UM PROPÓSITO EM SUA ESTRATÉGIA FARÁ TODA A DIFERENÇA NO SEU RESULTADO

Em um artigo na Harvard Business Review os professores, Thomas Malnight, Ivy Buche e Charles Dhanaraj, recomendam que as empresas tenham um propósito como principal driver de seu planejamento e desdobramento estratégico.
Neste sentido o termo propósito define-se como uma intenção de alcançar algo, mas com destaque para os aspectos qualitativos desta expectativa. É uma resolução organizacional de onde se quer chegar no sentido mais amplo.
As empresas há muito são incentivadas a incorporar um propósito ao que fazem. Mas geralmente este termo é mencionado como um complemento - uma maneira de criar valor compartilhado, melhorar a moral e o comprometimento dos funcionários, retribuição à comunidade e ajudar o meio ambiente.
Porém, ao pesquisarmos as empresas de alta performance, começamos a reconhecer que muitas delas haviam mudado o propósito da periferia de sua estratégia para seu núcleo - onde, com liderança comprometida e investimento financeiro garantido, elas o usavam gerar crescimento sustentável e lucrativo, permanecendo relevante em um mundo em rápida mudança e aprofundando suas relações com seus stakeholders.
O que aprendemos nestas organizações foi que o propósito desempenhava dois papéis estratégicos importantes: ajudou as empresas a redefinir o campo de atuação e permitiu que elas reformulassem sua proposta de valor. E isso, por sua vez, permitiu que eles superassem os desafios de baixo crescimento e pouca lucratividade.
Qual é a principal diferença entre empresas de baixo e alto crescimento?
As primeiras passam a maior parte do tempo lutando por participação de mercado em um cenário restrito, o chamado oceano vermelho, o que naturalmente restringe seu potencial de crescimento. E, como as batalhas mais agressivas ocorrem em segmentos que estão desacelerando, os ganhos em participação de mercado têm um alto custo, muitas vezes diminuindo os lucros e a vantagem competitiva à medida que as ofertas e promoções se tornam ineficazes.
Porém as empresas de alto crescimento, não se sentem limitadas ao seu campo de atuação atual. Em vez disso, eles pensam em ecossistemas inteiros, onde interesses e relacionamentos conectados entre várias partes interessadas criam mais oportunidades. Mas essas empresas não abordam os ecossistemas ao acaso. Eles deixam o propósito ser o seu guia, sua conexão com os seus potenciais clientes.
Quando confrontadas com a evasão das margens em um mundo onde as novidades rapidamente se tornam commodities, as empresas geralmente aprimoram suas propostas de valor inovando em produtos, serviços ou modelos de negócios. Isso pode trazer vitórias rápidas, mas é uma abordagem transacional voltada para prevalecer na arena atual. Uma abordagem orientada a propósitos facilita o crescimento em novos ecossistemas, permite que as empresas ampliem sua missão, criando uma proposta de valor holística e ofereça benefícios permanentes aos clientes.
As empresas podem fazer sua transformação para gestão por propósitos de três maneiras conjuntas: respondendo às tendências, construindo confiança e concentrando-se nos pontos problemáticos.
Já os líderes e empresas que definiram efetivamente o propósito corporativo geralmente o fazem com uma de duas abordagens: retrospectiva ou prospectiva.
A abordagem retrospectiva baseia-se na razão existente de uma empresa. Exige que você olhe para trás, codifique o DNA organizacional e cultural e compreenda o passado da empresa. O foco do processo de descoberta é interno. De onde viemos? Como chegamos aqui? O que nos torna únicos para todas as partes interessadas? Onde nosso DNA abre oportunidades futuras em que acreditamos? Esses são os tipos de perguntas que os líderes precisam fazer.
Na abordagem prospectiva o foco é a disruptivo com o passado e conduz a organização a uma transformação na cultura, estratégia e visão de como as coisas podem ser no futuro. Este tipo de abordagem é útil para os CEOs que querem trazer algo novo para uma estrutura anacrônica que pode estar destinada a deixar de existir se permanecer na direção atual.
Os líderes precisam pensar muito sobre como tornar o propósito o objetivo central de sua estratégia. As duas melhores táticas para fazer isso são transformar a agenda de liderança e disseminar o propósito por toda a organização, assegurando sua compreensão e o engajamento das pessoas.
O que recomendamos é um esforço único. Os líderes precisam avaliar constantemente como o propósito pode orientar a estratégia e precisam estar dispostos a ajustar ou redefinir esse relacionamento à medida que as condições mudam. Isso exige um novo tipo de foco dinâmico e sustentável, mas o valor que ele pode gerar será o diferencial para a empresa no futuro.
Bibliografia:
MALNIGHT, Thomas W.; BUCHE, Ivy; DHANARAJ, Charles. Put Purpose at the CORE of Your Strategy. HARVARD BUSINESS REVIEW, v. 97, n. 5, p. 70-79, 2019.

A IMPORTÂNCIA DE UMA VISÃO ESTRATÉGICA INSPIRADORA

“Bons líderes de negócios criam uma visão, articulam a visão, são apaixonados por ela e a conduzem incansavelmente até obter os result...